1. Agosto significa férias e calor, festas e romarias e significa também emigrantes. Este é o mês em que as nossas aldeias, vilas e cidades se enchem com aqueles que vivem e trabalham na diáspora, longe da família, dos amigos da “terra”. Agosto é o mês de matar saudades, de voltar às origens, de dar largas a todas as excentricidades oprimidas durantes os outros 11 meses, de sentir a luz única deste “jardim à beira-mar plantado”, de respirar o ar e sentir o cheiro da terra onde nasceram. Agosto é tudo isto e muito mais. Porque os emigrantes guardam os afetos e as memórias, como se tudo continuasse igual, como se o mundo, o seu mundo, tivesse sido encerrado numa lata de conservas, e nada mudasse – porque a saudade exige que tudo continue igual…
Mas em 2020, por culpa de uma pandemia funesta e perigosa, que deixou o mundo em suspenso, confinados entre casa e a vontade de regressar ao normal, de férias adiadas e coração despedaçado, os emigrantes não puderam peregrinar às suas terras, ver os seus lugares e gentes, matar saudades… Dois anos depois regressaram como nunca! Ou como sempre, porque os emigrantes portugueses, espalhados pelo mundo, regressam sempre, porque Portugal está sempre no seu coração – nem sempre bem entendidos, por vezes mal recebidos e quase nunca devidamente compreendidos (porque só quem já viveu no estrangeiro, «longe da pátria», pode sentir e compreender a dimensão da saudade e essa reserva de afeto e amor à terra).
Este agosto voltou a ser de normalidade, mesmo de máscaras e desconfiança Covid, os emigrantes voltaram a encher as aldeias e vilas da região como há muitos anos não acontecia. Este verão volta a ser como antigamente, mesmo com restrições e sem festas ou romarias, sem feiras e casamentos multitudinários, mas com a alegria de sempre. Este agosto já se sente uma certa normalidade e vida nas nossas terras depois de ano e meio de sofrimento e dúvidas. Obrigado aos nossos emigrantes. Sejam bem-vindos. Voltem sempre. Esta é a Vossa terra. A Nossa terra!
2. No contexto da minha nomeação para Diretor da Rádio Altitude escrevi aqui (https://ointerior.pt/opiniao/recuperar-a-radio-altitude/) que a mais antiga rádio local portuguesa, que entretanto, a 29 de julho, completou 73 anos – https://fb.watch/7i1EOl77J0/ – vivia arduidades inexcedíveis, até porque «as imensas dificuldades de contexto e as consequências de meses de pandemia promoveram mais pressão e dificuldades acrescidas sobre todos». Recebi então «uma empresa sem meios financeiros, uma emissora sem recursos humanos, uma rádio sem programas» que urge recuperar. E, como comentei, precisávamos, e precisamos, da ajuda de todos para recuperar a Rádio Altitude. «Estas palavras podem ser percebidas como um pathos aristotélico ao âmago da população, mas esta é a realidade, uma realidade que precisa da colaboração de todos».
Este apelo foi ouvido por muitos, que rapidamente perceberam que «entre todos vamos reconstruir a voz da cidade e da região». E esse apelo foi percebido particularmente por Manuel Rui Azinhais Nabeiro. O empresário, líder do grupo Delta, homem do interior, filantropo e altruísta como poucos, que há mais de 50 anos também ouvia o Altitude quando atravessava a raia, nesses tempos difíceis da ditadura em que o contrabando era uma das poucas opções, mecenas de tantas causas, fez um donativo de mil euros (à Rádio Altitude). Surpreendidos e agradecidos, o nosso enorme bem-haja ao Comendador Manuel Rui Azinhais Nabeiro.