Dois hospitais, treze centros de saúde, duas unidades de saúde familiar e várias unidades de cuidados continuados: esta é a realidade física da Unidade Local de Saúde da Guarda, que foi pioneira e tem como marca distintiva o facto de abranger todo o território do distrito (menos o concelho de Aguiar da Beira) e integrar sob uma só coordenação os diferentes níveis de intervenção: saúde primária e familiar, saúde hospitalar e cuidados continuados e paliativos. E tudo isto, em alguns concelhos, em antigos hospitais onde até chegaram a funcionar maternidades e internamentos.
Este modelo podia estar a fazer a diferença no combate à pandemia, mas não é isso que acontece, na opinião do delegado de Saúde Pública na Guarda, José Valbom.
Toda a pressão é colocada nas urgências do Hospital Sousa Martins e nos internamentos na área destinada aos pacientes de covid-19, mesmo que em grande parte dos casos não cheguem a ser graves (não necessitando cuidados intensivos) e muitos permaneçam por não terem outras condições de isolamento.
Há uma cultura de centralidade hospitalar a sobrepor-se a todas as outras estruturas, refere o médico. O ideal (e o lógico, tendo em conta o desenho da Unidade Local de Saúde da Guarda) seria que as equipas dos centros de Saúde se mantivessem a prestar a primeira resposta em cada concelho. Primeira resposta essa que, na maior parte das situações, seria toda a necessária e evitaria o encaminhamento para o Hospital Sousa Martins.
Por outro lado, vários centros de Saúde podem ter capacidade de internamento, permitindo activar algumas camas quando apenas é necessário isolar doentes sem gravidade.
José Valbom defende uma verdadeira gestão em rede, numa altura em que nem as 80 camas disponibilizadas pela Câmara da Guarda e pela Diocese no Centro Apostólico D. João Oliveira Matos estão a ser utilizadas como internamento de retaguarda.
A Unidade Local de Saúde está longe de ter esgotado a capacidade física própria, se esta for entendida «como um todo» que integra os diversos edifícios de que é proprietária no distrito. Um aproveitamento de recursos em benefício dos doentes e, sobretudo, para aliviar o Hospital da Guarda nos casos não graves.
Porque esta pressão pode estar a deixar para trás a capacidade de resposta noutras valências.
O médico defende, também, que a Guarda não perca o foco da concretização «da verdadeira» segunda fase do Hospital, que não são «os remendos» que têm vindo a ser anunciados.
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